Relatório do debate "Pesquisa
com Células Tronco"
RELATÓRIO
A disciplina
“Debates atuais em Ciências Biomédicas” (BMB5805-1), do programa
de pós-graduação da área de Fisiologia Humana,
propõe-se a permitir a realização de debates acerca
de temas polêmicos que envolvam a área de Biociências.
O primeiro debate abordou o tema “Pesquisa com Células-Tronco”, sendo
realizado no dia 06/04/2004 (Terça-feira) às 17:00hs, no ICB
IV. O público presente era formado por discentes da pós-graduação,
docentes e demais pessoas interessadas no assunto. Houve a participação
dos seguintes debatedores:
•
Dr. Osvaldo Keith Okamoto, responsável pela Pesquisa Genômica
e Biologia Celular do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do Hospital Israelita
Albert Einstein.
•
Dr. Roque Marcos Savioli, Diretor da Unidade de Saúde Suplementar do
Instituto do Coração (InCor) do HC da FMUSP.
O Dr. Okamoto explanou sobre o conceito de células-tronco, sua utilização,
meios e locais de obtenção e pesquisa na área. O Dr.
Roque, por sua vez, apresentou sua opinião no que tange a moral e a
ética em pesquisa com células-tronco.
O debate abordou a capacidade
das células-tronco de gerar células sanguíneas e tecidos,
de modo que as pesquisas têm sido um esperança para a
regeneração de órgãos afetados por doenças
como Parkinson, Alzheimer, cardiopatias, esclerose múltipla, doenças
do sangue, traumas da medula espinhal, entre outras. Porém, existe
a possibilidade de rejeição, como em todo transplante, além
do risco de formação de tumores. Uma das hipóteses para
o mecanismo de diferenciação dessas células seria proveniente
do estímulo da codificação genética das células
da região em que foram depositadas. Assim, o efeito indesejável,
no caso dos tumores, consistiria no desenvolvimento de um processo de multiplicação
constante ocasionado por uma possível inexistência de um mecanismo
que frenasse esse estímulo.
Um dos pontos de elevada
discussão foi sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias.
A polêmica estava no fato de serem células que vêm apresentando
bons resultados nessas pesquisas, mas que, por outro lado, possuem a rejeição
daqueles que acreditam que sua utilização consiste na destruição
de vida humana em potencial, já que uma das formas de obtenção
desse material é através da destruição de um
embrião pré-implantação de cinco dias. Comparada
com outros tipos de células-tronco, como as da medula óssea
e do cordão umbilical, as células embrionárias têm
sido aparentemente mais eficazes. Tal fato foi justificado por serem células
com grande capacidade de gerar todos os tipos celulares existentes num organismo
adulto, ao contrário dos outros tipos de células-tronco adultas.
As células-tronco
embrionárias também permitiram o levantamento de questionamentos
sobre o destino do material embrionário estocado em clínicas
de fertilização. O conflito de idéias nesse caso foi
a existência de uma possibilidade de utilização
dessas células em pesquisas em que se objetiva o tratamento, e até
mesmo a cura de doenças, o que se confronta com a idéia dos
que acreditam que um embrião, mesmo de 5 dias, já corresponde
a uma vida humana, de modo que não seria justificável cometer
um erro na tentativa de solucionar um outro anterior. Este argumento respaldou-se
em princípios éticos, porém, para alguns dos presentes,
um embrião não corresponde a uma vida humana propriamente dita,
de forma que para estes não seria ético permitir que pessoas
portadoras de doenças fossem privadas de uma esperança
em benefício de tal teoria. Costatou-se, assim, uma dualidade entre
conceitos éticos. Outro ponto levantado foi o risco de que que tais
pesquisas venham a gerar futuramente uma comercialização das
células-embrionárias, pois uma vez que embriões continuam
a serem estocados diariamente em clínicas de fertilização,
um bom resultado com esse tipo de célula poderia estimular ainda mais
o seu estoque.
Toda
essa discussão está relacionada com o projeto de lei de Biossegurança,
aprovado pela Câmara dos Deputados em fevereiro de 2004, em que se
proíbe a produção de embriões humanos destinados
a servir como material biológico disponível, mas que permite
a clonagem terapêutica com células pluripotentes. O projeto
gera um paradoxo, pois a clonagem terapêutica não deixa de envolver
a produção de embriões humanos com finalidade de disposição
de material biológico. Por outro lado, também foi discutido
se o não investimento em pesquisa com células-tronco embrionárias
poderia levar o Brasil a um atraso científico-tecnológico com
relação a outros países.
Muito
foi discutido e mais ainda o será até que se tenha chegado
a um ponto final com relação a esse assunto. O consenso geral
pôde ser encontrado na real necesidade de leis que controlem essas
pesquisas e na reconhecida importância das células-tronco no
que se refere ao futuro da saúde. Sendo assim, não há
quem se posicione contra as pesquisas com células-tronco, uma vez que
quem o fizer estará se posicionando contra o futuro da ciência
e a vida que ela abraça.