titulo: Análise da participação do núcleo pré-mamilar dorsal no comportamento de avaliação de risco e na mobilização dos sistemas neurais envolvidos nas respostas de defesa inata induzida pela exposição predatória

Com o objetivo de avaliar o papel do PMd na mobilização dos sistemas neurais envolvidos com o processamento de respostas defensivas em situações de ameaça predatória, analisamos o padrão de distribuição de células imunorreativas ao Fos em estruturas destes sistemas em ratos portadores de lesões citotóxicas bilaterais do PMd, durante o confronto com o gato. Após a cirurgia, cada animal (N=7) foi individualizado em uma caixa-moradia (25x25x25 cm) com tampo e porta, ligada a um corredor com um metro de extensão com acesso a outra caixa (caixa 2), com as mesmas dimensões da caixa-moradia. Durante 10 dias os animais passaram por um período de adaptação a este aparato, sendo que todos os dias no início do período de escuro a porta da caixa-moradia foi aberta permitindo que os animais explorassem o corredor e se deslocassem até a caixa 2 para obterem a ração ali depositada. No 11º dia um gato foi colocado na caixa 2 imediatamente antes da abertura da porta da caixa moradia. Os animais foram filmados para posterior análise comportamental. Os animais portadores de lesão citotóxica bilateral do PMd, durante a exposição ao gato, apresentaram uma redução das respostas de freezing (65±7,5 vs 553±7,8; p<0,05) e flight (5±0,78 vs 10±0,6; p<0,05) e aumento das respostas de avaliação de risco, tais como crouch-sniff (306±29,4 vs 10±4,5; p<0,05), stretch attend (110±10,0 vs 0±0; p<0,05) e stretch approach (13±1,4 vs 5±1,0; p<0,05). Além disso, a lesão bilateral do PMd diminui a quantidade de células imunorreativas ao Fos na matéria cinzenta periaquedutal (PAG), embora o padrão de distribuição da marcação à proteína Fos nesta região tenha sido semelhante ao apresentado pelos animais controles (N=7). Adicionalmente, a diminuição das células imunorreativas na parte ventral do núcleo anteromedial do tálamo nos animais com lesão no PMd parece indicar o comprometimento de sistemas diretamente envolvidos com o processamento de resposta atencionais. Por outro lado, a lesão do PMd parece não afetar os mecanismos amigdalianos de detecção do predador, uma vez que não houve alteração na marcação ao Fos em áreas da amídala que se projetam para o hipotálamo medial. Não foram observadas diferenças entre os animais com o PMd lesado e os animais controles na marcação do Fos em regiões do septo e hipocampo.

Para avaliarmos como o PMd influencia a emissão de respostas defensivas emitidas em contextos potencialmente hostis nos quais o predador foi previamente encontrado, submetemos um grupo de animais (N=6) à inativação farmacológica bilateral do PMd por muscimol no dia seguinte à exposição ao predador e avaliamos o comportamento e o padrão de marcação por Fos na PAG desses animais. Os animais com o PMd inativado apresentaram uma diminuição de repostas de crouch-sniff (60±27 vs 338±38 e 384±15; p<0,05), stretch attend (6±2 vs 47±10 e 32±10; p<0,05), stretch approach (7±2 vs 21±5 e 19±4; p<0,05) e freezing (0±0 vs 19±5 e 20±4; p<0,05), enquanto que as respostas exploratórias, como o locomotion (333±38 vs 66± 13 e 64±14; p<0,05) e o up-right position (68±8 vs 41±3 e 36±1; p<0,05), foram aumentadas. Adicionalmente, a inativação farmacológica do PMd diminuiu consideravelmente a marcação em alguns setores da PAG, particularmente a coluna dorsolateral. Assim, além de mediar as respostas incondicionadas emitidas diante do predador, a PAG, e particularmente a sua coluna dorsolateral, está relacionada com a emissão de respostas contextualmente condicionadas a ambientes hostis.

Estes dados, em conjunto com os obtidos da literatura, permitem delinearmos em parte os sistemas neurais envolvidos na organização das respostas aprendidas e inatas induzidas pela exposição ao predador natural de roedores e sugere que o PMd exerça uma ação modulatória nesses comportamentos, que são efetivamente coordenados pela PAG.